Espetáculo idealizado pela pesquisadora Rosana Lanzelotte irá percorrer unidades do Sesc RJ de quatro cidades fluminenses, destacando a importância do gênero que influenciou maxixe, choro e samba
No próximo dia 14 de março, sexta-feira, o Sesc São Gonçalo será palco da estreia do espetáculo “Lundu Brasileiro”, que resgata o gênero brasileiro que tem origem na dança popular introduzida no Brasil pelos escravos vindos de Angola no século XVIII. A fusão de elementos oriundos das culturas africana, portuguesa e espanhola promoveu seu ritmo sincopado na origem de gêneros tipicamente brasileiros, como o maxixe, o choro e o samba. Contemplado no Edital Sesc RJ Pulsar 2024/2025, o projeto irá percorrer ao todo quatro cidades fluminenses, seguindo, adiante, para o Sesc Tijuca (6/5), Sesc Teresópolis (25/10) e Sesc Nova Friburgo (29/11).
O espetáculo foi concebido por Rosana Lanzelotte, musicista, pesquisadora e idealizadora do Musica Brasilis, portal que oferece gratuitamente as partituras dos lundus apresentados (os mesmos conteúdos estarão também disponíveis no portal SESC Partituras).
“Lundu Brasileiro”
No programa, serão apresentados exemplos dos primeiros lundus compostos no país, assim como obras de compositores influenciados pelo estilo, entre eles Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga e Villa-Lobos. As peças musicais são intercaladas por comentários que as inserem em seu contexto sócio-histórico, a cargo dos músicos Marina Spoladore (piano), José Staneck (harmônica) e Ricardo Santoro (violoncelo).
O exemplo mais remoto de lundu conhecido hoje é o que foi anotado pelos naturalistas Spix e Von Martius durante a expedição realizada pelo interior do Brasil entre 1817 e 1820. Um raro exemplo de lundu instrumental – o Landum das Beatas – localizado pela pesquisadora Rosana Lanzelotte na Biblioteca da Ajuda (Lisboa) e que será apresentado pela primeira vez no Brasil.
Avançando pelo século XIX, o programa apresenta o lundu “Isto é bom”, de Xisto Bahia, a primeira peça gravada no Brasil, em 1902, pela Casa Edison, fundada por Fred Figner. Espalhando-se por todo o país, o gênero deixou suas marcas no Norte pelas mãos de dois dos principais compositores do Maranhão: Leocádio Alexandrino dos Reis Rayol (1849-1909) e Antônio dos Reis Rayol (1863-1904). Já Ernesto Nazareth iniciou a carreira de compositor aos 14 anos ao escrever a polca-lundu “Você bem sabe”. O célebre “Lundu da Marquesa de Santos”, de Villa-Lobos é um dos pontos altos do programa.
Lundu Brasileiro na França em 2025
Diversas atividades estão programadas para acontecer ao longo de 2025 em comemoração ao Ano Brasil-França e o “Lundu Brasileiro” será apresentado em recitais por Rosana Lanzelotte (cravo) e Clea Galhano (flautas doces) na semana comemorativa da abolição da escravatura. As apresentações acontecerão na Embaixada do Brasil em Paris (13 de maio) e no Chateau D’Arcanges, região de Bordeau (17 de maio).
Musica Brasilis
Há 15 anos, o instituto sem fins lucrativos foi fundado pela pesquisadora Rosana Lanzelotte para promover a valorização do patrimônio musical brasileiro através do resgate e difusão de repertórios de todos os tempos. O atual acervo do portal Musica Brasilis (https://musicabrasilis.org.br/) foi ampliado pelo projeto Acervo Digital de Partituras Brasileiras,cujo objetivo é dar acesso livre e aberto a edições de 5 mil partituras de compositores brasileiros em domínio público através da web. Até o momento, 4.934 partituras de 433 compositores brasileiros em domínio público – de todas as regiões do Brasil – foram recuperadas e digitalizadas. A iniciativa conta com o patrocínio do Instituto Cultural Vale e apoio financeiro do BNDES, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura e Governo Federal. O catálogo de obras está disponível gratuitamente no portal.
O Instituto conquistou a cooperação da Unesco, do IBICT / MCTI, responsável pela preservação perene dos conteúdos, parceria com Wikimedia Commons, e o credenciamento pelo programa Google for Nonprofits e United Nations Volunteers. A solidez e a excelência do conteúdo, levou a seleção do portal pela Rede da Memória Virtual Brasileira, iniciativa da Fundação Biblioteca Nacional e a captação do portal pelo programa de Web Archiving da Library of Congress (EUA).
Sobre os músicos
Marina Spoladore (piano): pianista paranaense, professora assistente do departamento de piano e cordas da UNIRIO, conquistou mais de 30 prêmios em concursos nacionais e latinoamericanos. É bacharel em Piano pela UFRJ, mestre em Musicologia pela UNIRIO e doutora em Performance Musical pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atua intensamente no cenário da música contemporânea, além de se apresentar como recitalista, solista e camerista, como integrante do Abstrai Ensemble e do Trio Paineiras.
José Staneck (harmônica): músico, concertista, Mestre em música, produtor e editorador, Staneck faz de sua harmônica um instrumento de transformação. Chamado de David Oïstrakh da harmônica pelo crítico francês Olivier Bellamy e comparado aos músicos Andrés Segovia e Mstislav Rostropovich por sua atuação na divulgação do instrumento pelo crítico Luiz Paulo Horta, desenvolve um estilo próprio onde elementos tanto da música de concerto quanto da música brasileira e do jazz se fundem numa sonoridade marcante. Estudou harmonia com Isidoro Kutno, análise com H. J. Koeullreutter e interpretação com Nailson Simões. Em 2007, obteve o título de Mestre pela UNIRIO. Desenvolve importante trabalho na área do ensino levando sua música para crianças em diversas localidades do Brasil. Atua com diferentes formações camerísticas e já foi solista de diversas orquestras sinfônicas brasileiras e internacionais, incluindo a tournée aos EUA junto à Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo no icônico Carnegie Hall em Nova Iorque, sob a regência da maestrina Marin Alsop.
Ricardo Santoro (violoncelo): é Mestre pela UFRJ e violoncelista das orquestras Sinfônica Brasileira e Sinfônica da UFRJ. Faz parte dos conjuntos Duo Santoro, Trio Aquarius, Trio Mignone, Harmonitango e Quarteto Atlas, com os quais já se apresentou nas principais salas de concertos do Brasil, dos Estados Unidos, da Alemanha, da Argentina e da República Dominicana, e com os quais gravou sete CDs, sendo seis dedicados à música brasileira e um dedicado a Astor Piazzolla.

SERVIÇO:
14/3, sexta-feira – “Lundu Brasileiro” no Sesc São Gonçalo
Músicos: Marina Spoladore (piano); José Staneck (harmônica) e Ricardo Santoro (violoncelo)
Direção artística e pesquisa: Rosana Lanzelotte
Produção executiva: Cíntia Pereira
Iluminação: Wilian Sales
Horário: 19 horas
Endereço: Av. Pres. Kennedy, 755 – Estrela do Norte, São Gonçalo
Classificação: Livre
Duração: 60 minutos
Ingressos: GRÁTIS (PCG) | R$ 5 (Credencial Plenaa) | R$7,50 (meia) | R$ 15 (inteira)
Acessibilidade: Intérprete de libras
PROGRAMA:
Anônimo, recolhido por Spix and Von Martius
- Lundum
Joze Constantino Vallucci
- Landum da Beatas (estreia moderna)
Xisto Bahia
- Isto é bom
Leocádio A. dos Reis Rayol
- Lundu dos Progressistas da Cidade Nova
Antônio dos Reis Rayol
- Lundu do Açaí
Ernesto Nazareth
- Batuque
- Odeon
Chiquinha Gonzaga
- Lua Branca
- Gaúcho
H. Villa-Lobos
- Lundu da Marquesa de Santos
E. Villani-Côrtes
- Cinco Miniaturas Brasileiras